Literatura e cinema como "lugares de memória". O que este livro busca recuperar é a memória dos perseguidos, daqueles que não se alinham como vencedores, mas tampouco se acomodam na posição dos vencidos, procurando alçar a sua voz, alertar a sua geração e as que virão, unindo o presente e o futuro. A partir de duas obras singulares, respectivamente, o testemunho literário de Graciliano Ramos sobre o período que passou nas prisões varguistas, entre 1936 e 1937, e a versão cinematográfica desse mesmo testemunho, de Nelson Pereira dos Santos, Tânia Nunes Davi tece uma análise aprofundada das várias facetas do autoritarismo, algumas das quais só perceptíveis através da sensibilidade do olhar do artista.A leitura intertextual e interdisciplinar dessas obras evidencia como elas dialogam entre si e com as condições próprias do seu tempo histórico. Lastreado em uma bibliografia abrangente, que vai da História Geral às Histórias do Cinema e da Literatura, o livro mostra os "bastidores" da produção e da recepção tanto do relato original quanto do filme nele baseado. Ressalta os aspectos contraditórios, violentos e mesmo caóticos da sociedade brasileira, que variados governos e grupos sociais querem conduzir à ordem e ao imobilismo. Num plano de olhares cruzados e que se interpenetram - o do escritor genial, o do construtor de imagens e o da analista da história - o livro ilumina os subterrâneos de dois períodos históricos cruciais.